Estava a subir a circunvalação com a fizinha e a Tatami, quase a chegar à rotunda dos produtos estrela quando vejo um senhor de idade a estatelar-se no chão. Parei o carro e fui a correr ver se o homem estava bem. Não dizia coisa com coisa! Pensei logo: "grande naça!" Mas logo coloquei essa hipótese de parte porque para além da dislexia não apresentava sinais nenhuns de alcoolemia. Liguei para o 112 e o médico diagnosticou-lhe um AVC. Pouco depois de desligar passou um homem que nos disse que era costume o senhor de idade andar por aí aos caídos porque a tasca fechava e os colocava porta-fora... liguei outra vez para o 112 a contar o que me tinham dito mas mantiveram a necessidade de enviar uma ambulância, que chegou pouco depois, levou o senhor e eu continuei o caminho em direcção a um jantar com amigos.

Enquanto esperava ainda tentei travar um diálogo com o senhor. Segundo ele, tinha 67 anos, o filho tinha-lhe batido e chamado bicho. Morava no Marco de Canavezes ou em Pereiró, conhecia 200 000 médicos e tinha 200 000 casas. Quando lhe disse que tinha passado um senhor a dizer que ele era dali e que tinha vindo da tasca ele respondeu:
"quem é que lhe disse?"
"um senhor que passou aqui"
"e você ouviu?"
Aí já não respondi...
Perguntou-me ainda se eu era "um deles". Um deles quê, perguntei eu ao que respondeu sério com um "desculpe, desculpe" como se fosse um segredo qualquer muito bem guardado.